ChatGPT está nos deixando mais estúpidos? Especialista alerta para riscos do uso excessivo de inteligência artificial
Em 2008, o jornalista Nicholas Carr provocou debates ao perguntar: “O Google está nos deixando mais estúpidos?”. Anos depois, em meio à ascensão da inteligência artificial generativa, essa provocação ressurge com nova intensidade. Agora, a pergunta é: o ChatGPT está nos deixando estúpidos?
Essa é a reflexão trazida pelo especialista em sistemas de informação Aaron French, no artigo publicado pelo portal The Conversation.
Com mais de duas décadas de experiência no estudo da IA, French aponta que as ferramentas de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, não apenas recuperam informações — elas criam, analisam e resumem dados, assumindo funções que antes exigiam raciocínio humano.
“Os usuários da internet não estão apenas terceirizando a memória — eles podem estar terceirizando o próprio pensamento”, alerta o autor.
Uma nova ameaça ao pensamento crítico?
A análise de Aaron French destaca uma mudança profunda no comportamento cognitivo das pessoas. Segundo ele, ao depender da IA para resolver problemas e tomar decisões, o ser humano corre o risco de desacostumar-se a pensar criticamente, comparar pontos de vista ou lidar com a ambiguidade.
O uso excessivo da IA pode levar ao chamado “desestímulo intelectual”, onde o indivíduo perde a capacidade de pensar de forma independente, tornando-se cognitivamente limitado e dependente das respostas geradas pelas máquinas.
O efeito Dunning-Kruger e a ilusão de conhecimento
Um dos pontos centrais do artigo é a relação entre o uso da IA e o efeito Dunning-Kruger — um fenômeno psicológico no qual pessoas com baixo nível de conhecimento sobre um assunto tendem a superestimar suas habilidades.
Ao repetir respostas fornecidas pela IA sem compreender seu conteúdo, muitos usuários podem se iludir achando que dominam um tema, quando, na verdade, estão apenas reproduzindo informações sem qualquer base crítica.
“A IA pode mascarar a ignorância e oferecer uma confiança injustificada”, explica French.
A IA não precisa nos tornar mais estúpidos — se usada corretamente
Apesar das advertências, o especialista não considera a IA um vilão por natureza. Pelo contrário: o verdadeiro problema não está na ferramenta, mas em como ela é utilizada.
Segundo ele, a inteligência artificial generativa pode — e deve — ampliar as capacidades humanas, estimulando a curiosidade, tornando tópicos complexos mais acessíveis e promovendo o pensamento profundo.
A chave, portanto, está em usar a IA como parceira de aprendizado e não como substituta do raciocínio humano.
IA e o futuro do trabalho: um divisor de águas
No artigo, Aaron French também analisa como o uso consciente da IA impactará o futuro do trabalho. Ele sugere dois caminhos possíveis:
- Um caminho de declínio intelectual, onde as pessoas deixam a IA pensar por elas e perdem habilidades essenciais;
- Outro de crescimento e expansão cognitiva, onde a IA é usada como uma alavanca para potencializar capacidades humanas.
Aqueles que usarem a IA de maneira passiva e sem critério serão facilmente substituídos. Já os que souberem utilizá-la estrategicamente para resolver problemas complexos, inovar e pensar criticamente, se destacarão no novo cenário profissional.
“Este ensaio começou com a questão de saber se o ChatGPT nos tornará estúpidos, mas gostaria de terminar com uma pergunta diferente: como usaremos o ChatGPT para nos tornar mais inteligentes?”, conclui o autor.
A inteligência artificial generativa não é, por si só, uma ameaça. Mas seu uso indiscriminado pode prejudicar profundamente a capacidade de pensar, aprender e compreender o mundo. O desafio atual não é apenas tecnológico, mas ético e educacional: como ensinar as pessoas a usar a IA de forma crítica e consciente?
Assim como aconteceu com o Google, o impacto do ChatGPT dependerá das escolhas dos próprios usuários. Afinal, a ferramenta pode nos tornar mais espertos ou mais estúpidos — tudo depende de como a usamos.
Fonte: The Conversation